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"Made in Portugal" já não embaraça sector do calçado

segunda-feira, 3 de março de 2008

 
O calçado português aposta cada vez mais no "design"

O calçado de José Reis não tem nada que lhe revele a origem. O estilo segue as linhas de uma moda sem pátria, integradora de signos das múltiplas culturas que a televisão e a Internet nos trazem a casa.

Podia ser italiano. Mas não é. É português. E o empresário de Felgueiras não quer que disso fiquem dúvidas, assinalando, com orgulho: “todos os nossos sapatos têm inscrito, na sola, a expressão Portuguese design”. Os portugueses – pelo menos os 80 presentes na Micam, a Feira Internacional de Calçado de Milão, que terminou na sexta-feira – passaram os últimos anos a perder a vergonha, criando marcas próprias e reajustando a imagem internacional da produção made in Portugal. O desafio, agora, é espalhar o calçado português pelo mundo.

Para o sector os seus caminhos são bem legíveis nos movimentados corredores da Micam, uma das mais importantes feiras do mundo, direccionada para segmentos de mercado com elevado poder de compra, para os quais têm apontado cada vez mais empresas cansadas de entregar de mão beijada o valor acrescentado dos seus produtos às marcas internacionais: seja recorrendo à universalidade do inglês, através de marcas como Fly London, Eject, Hard Hearted Harlot, Sofwaves ou We Do, entre outras; seja assumindo uma ligação mais forte à origem, como fazem, entre outros, Luís Onofre, Paulo Brandão ou Carlos Santos, os três direccionados para o segmento de luxo.

A aposta tem sido correcta, e os números demonstram-no. Das 1200 empresas existentes em Portugal, sete por cento integraram a delegação presente na Micam (80 firmas, com um número algo superior de marcas), mas o respectivo volume de negócios – 378 milhões de euros em 2007 – representa 28 por cento do valor produzido no ano passado, que segundo a maior associação do sector, a APICCAPS, se terá cifrado em quase 1340 milhões de euros. Mas mais do que a quantidade de sapatos produzida, o que distingue esta elite do resto do sector é mesmo o valor que a marca, o design e a qualidade com que se apresentam acrescenta aos seus produtos, que são os que mais contribuem para o elevado preço médio do par de calçado português no mercado mundial: 20 dólares, valor apenas batido pelo calçado italiano.

Os factores de mudança estão bem expostos em Milão. Design, qualidade, pessoas. Entre empresários com décadas no sector viam-se muitos rostos jovens, mostrando o papel que a nova geração está a ter nesta revolução virada para fora. Com sete anos, a Eject do experiente Joaquim Carvalho começou a vender no estrangeiro, “chegando” só depois às lojas portuguesas.

Com cinco anos, Marcelo e Orlando Santos, dois “herdeiros” de uma empresa trintona de São João da Madeira, cansaram-se de vender as suas ideias “ao desbarato” a outras marcas, e agora vendem a Sofwaves, o seu “confort around the clock” para mulher, um pouco por todo o mundo, deixando cinco por cento da produção, actualmente nos 110 mil pares por estação, em portugal.

O calçado português disputa o mercado onde houver poder de compra e, imunes à crise que se anuncia, vários empresários em Milão assumiram previsões de crescimento na ordem dos dois dígitos, de fazer corar as pálidas estimativas do Governo para o país.







Fonte: PÚBLICO, 03.Mar.08
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